sábado, 9 de janeiro de 2016

A Tecnologia a Serviço do Retardo Mental


Depois do instinto de autopreservação, o mais forte impulso que move o macho no reino animalia é o afã de se reproduzir. É a irresistível obrigação biológica de passar seus genes adiante a origem dos espetáculos bizarros e curiosos que os machos proporcionam na hora de cortejar e se oferecer para as fêmeas. Desde macho da foca-de-crista, que infla sua cavidade nasal até que se pareça com um balão gigante, ao macho da viúva negra, que corre o risco de ser devorado vivo pela fêmea ao se aproximar dela, é enlouquecedora a variedade de comportamentos estapafúrdios aos quais os animais se submetem em nome da perpetuação da espécie.
O macho humano carrega a particularidade de ser o único representante do reino que introduz os componentes moral e racional na equação da reprodução. Em tese, deveria dispor de meios menos animalescos para cortejar a fêmea da espécie. A observação empírica, no entanto, atesta sua prolífica capacidade de exibir comportamentos que fariam o ritual de acasalamento do macaco bonobo se confundir com uma exibição de O Lago dos Cisnes pela Academia de Balé Bolshoi.
Mesmo que naturalmente seja um retardado completo e nutra uma paixão bovina por toda sorte de imundície que atravesse o vácuo entre seus ouvidos, é quando tenta chamar a atenção da fêmea que o macho humano comum se supera em sua estupidez. Ignorando qualquer senso de prudência e ridículo, é bastante frequente que, traído pela tirania insuperável da testosterona, se veja constantemente agindo como um macaco de circo, aderindo a comportamentos autodestrutivos ou se fazendo de palhaço na tentativa de cair nas graças de alguma fêmea (geralmente com QI de ameba igual ao dele). De tão aterradora realidade, nem Aristóteles escapou.
No esforço heróico de ser bem sucedido na correria darwinista sócio-sexual, agir como um idiota parece ser pré-requisito fundamental. Por isso mesmo, é bastante comum a visão de animais se vestindo e se portando como araras no cio ou de neandertais gastando o que não têm numa única noite, a movimentar toda uma indústria que lucra em cima da infinita potencialidade do homem comum de ser feito de otário.
Mesmo a tecnologia, que como a filosofia é o que melhor distingue a espécie da selvageria de todas as outras do reino animal, endossa o panorama de burrice e mediocridade que reafirma a condição animalesca do homem comum. O que sempre foi um monumento à capacidade humana de se elevar sobre as outras espécies se tornou um meio de rebaixá-la à grosseria elementar das mais simples criaturas, ao ser convertida em mera coadjuvante num grotesco ritual de acasalamento moderno. Como o coala macho, que rejeita sua habitual natureza pacata e passa horas seguidas gritando freneticamente, a besta humana média utiliza a tecnologia para chamar a atenção da fêmea da espécie fazendo o máximo de barulho possível.
 Que motivação, afinal, levaria um chimpanzé a chegar com um amplificador de som que vale mais que sua vida miserável e despejar o inferno sobre quem está próximo, senão a necessidade neolítica de atrair a fêmea da forma mais primitiva? Alguém (ou algo) que não significa absolutamente nada por si só, tão incompetente em chamar atenção pelo que é que precisa apelar para a violência elementar. Não à toa Schopenhauer sentenciou que quanto menos ruído alguém suporta sem se incomodar, maior seu grau de civilização. O que seria isso senão a sublimação de um paradoxo colossal? A técnica, um dos mais nobres produtos do intelecto humano, que durante a história possibilitou ao homem controlar seu ambiente e se destacar dentre todas as outras criaturas, se torna uma ferramenta de involução, um link permanente com o passado troglodita da humanidade, uma barreira tecnológica erguida entre o homem e a civilização.
Não que a maioria tenha no passado sido muito melhor do que é hoje. Se não fosse por uma minoria de bravos que desde sempre carregou a humanidade nas costas, certamente ainda estaríamos em cavernas comendo insetos. A questão é que, como dizia Nelson Rodrigues, se desde sempre o silêncio foi dos imbecis, hoje a tecnologia criou meios de perceberem sua onipotência numérica e de exibir sua idiotice em voz alta, no volume máximo.

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