Em
2014, 43 manifestantes foram brutalmente assassinados por uma gangue de
narcotraficantes em Iguala, no México. O
crime, ordenado pelo prefeito da cidade na tentativa de impedi-los de sabotar
um evento público promovido pela primeira-dama, horrorizou o mundo devido aos
requintes de crueldade empregados. Consta que as vítimas foram amontoadas em três veículos (15 morreram de asfixia
durante o trajeto) e levadas a um depósito de lixo no município de Cocula, onde
foram executadas e tiveram seus corpos carbonizados.
Proveniente
do município de Ayotzinapa, o grupo era formado por alunos da escola rural Raúl
Isidro Burgos, famoso centro formador de militantes socialistas, de onde saíram,
inclusive, famosos guerrilheiros mexicanos como Lucio Cabañas. Adeptos de
táticas radicais, os estudantes se encontravam em posse de alguns ônibus
tomados à força (prática comum
em suas mobilizações) quando foram detidos pela polícia e entregues aos
narcotraficantes da facção Guerreros Unidos, ligada à esposa do então prefeito.
É
em tragédias dessa magnitude que mais claramente salta aos olhos o destrutivo
poder de influência das ideologias radicais sobre mentes ingênuas, materializado
na frieza com que esses jovens foram cruelmente convertidos em massa de manobra
e, como ovelhas, enviados ao matadouro. Manipulados em sua inocência, foram
impelidos à estupidez de enfrentar políticos corruptos ligados a brutais gangues
de narcotraficantes. Pagaram com a vida por isso. Tal qual centenas de jovens
brasileiros durante o governo militar, foram vítimas do aliciamento ideológico
de agitadores experientes e impiedosamente jogados aos lobos por criminosos que
se escondem por trás de teorias fantasiosas e que raramente têm coragem de
assumir a linha de frente da luta que promovem. Não à toa, ninguém tinha
mais que 21 anos no grupo. Seus professores-doutrinadores continuam, em sua
covardia revolucionária, a seduzir impunemente mais idiotas influenciáveis.
Instrumentalizar
a pobreza no intuito de formar massa de manobra de sindicato partidarizado e movimento “social”
para viver de exigir do estado. Eis a real função das ideias socialistas em
locais como Ayotzinapa, onde a crença cega no governo como um Deus ex machina é, no fundo, a causa
principal da maioria dos problemas. Transferir para um ente distante e
indiferente a responsabilidade pelas vidas das pessoas é a maneira mais eficaz
de mantê-las dependentes e assim perpetuar a pobreza e o atraso. No fundo, toda
iniciativa de redistribuição é um meio de administrar as necessidades dos
pobres em favor dos interesses de uma elite política.
Mensagens
messiânicas tendem a ganhar relevância em cenários onde o desespero é a norma. É
diante do medo e da completa falta de perspectivas que os discursos místicos
parecem ser a única saída possível. Se até a queda da Bastilha as religiões detinham o
monopólio da narrativa da salvação e prometiam num paraíso post mortem o fim do sofrimento terreno, a mística política dos
próximos cem anos traria as soluções do céu para um futuro que nunca chega.
Ficaria a cargo dos portadores da boa nova secular a catequização política dos
gentios.
Assim
se notabilizam os pensadores cujas ideias ocasionam diariamente os Igualas e os
Eldorados dos Carajás que passam despercebidos nos rincões mais pobres e
afastados do mundo. No Brasil não poderia ser diferente. Paulo Freire, cuja maior contribuição à educação do país foi converter a
concepção oficial de pedagogia em um pacto firmado entre as elites política,
acadêmica e intelectual pela radicalização em massa de crianças e adolescentes
em sala de aula, foi declarado patrono nacional da educação. Boa parte de sua retórica se baseia em censurar
como mera imposição burguesa o caráter tecnicista, “bancário”, da educação
convencional, voltada a capacitar para o trabalho. Em vez dela, idealiza os
professores não como agentes de criação de população economicamente ativa, mas
como formadores de “consciência crítica”, projetando assim a escola como centro
formador de “cidadãos”.
A
dita “preocupação social” do modelo pedagógico oficial do “progressismo”
brasileiro não demora a trair seu teor totalitário orwelliano ao pregar a apropriação
governamental da função estritamente parental de formar cidadãos. Tutto nello stato. Astutamente identificando
a autoridade familiar como o último bastião da sociedade contra a tirania do estado,
a pedagogia do oprimido parece se
mover no sentido de contornar esse obstáculo através da apropriação ideológica
das crianças via educação estatal. Tal qual na magnum opus de Orwell, as crianças, antes sob tutela da família,
passam a ser propriedade do estado.
Em
situações de estabilidade social (a norma), onde o enriquecimento da humanidade
nos
últimos 200 anos promoveu uma generalização do conforto e
da prosperidade sem precedentes na história documentada, o principal efeito da pedagogia crítica de Freire é alçar as
birras infantis de uma geração imbecilizada de mimados desocupados à condição de causas
políticas, facilitando assim sua cooptação por partidos anacrônicos, que de
outra forma já teriam caído no ostracismo.
Já
numa comunidade como Ayotzinapa, onde uma população entregue à própria sorte se
vê diariamente sem qualquer perspectiva de prosperidade, rejeitar um modelo
educacional voltado primordialmente a habilitar as pessoas a gerar riqueza,
nada mais é do que um esforço evidente no sentido de mantê-las pobres e
necessitadas, com a finalidade precípua de fazer uso político de sua condição. O
único compromisso de um projeto “pedagógico” dessa estirpe é com o cultivo
ideológico de infantaria revolucionária. Como consequência imediata, a
população mais necessitada, naturalmente suscetível a esse tipo de demagogia e
carente de qualquer assistência estatal, é impiedosamente jogada contra o poder
esmagador dos senhores da guerra locais e sistematicamente exterminada sem
cerimônia.
No
Brasil, a natureza das recentes invasões de escolas estaduais em São Paulo é
idêntica à das manifestações dos estudantes do colégio Raúl Isidro Burgos. Exatamente
como seus similares mexicanos, os invasores são jovens em idade estudantil manipulados
por agitadores profissionais de partidos obscuros, especialistas em aproveitar reivindicações
justas para semear a desordem. Em que pese o fato de serem realmente alunos dos
colégios que invadem (à revelia da maioria, diga-se), as evidências
escancaram o óbvio: mesmo tentando passar a impressão de espontaneidade,
horizontalidade e independência, os estudantes atuam sob coordenação de agremiações
esquerdistas. E isso é mais claro ainda ao se constatar o caráter unicamente partidário
das motivações, refletido na ausência de invasões nos 103 colégios municipais sem merenda, esses sob
administração de um prefeito petista. Comportamento, aliás, idêntico ao da UNE quando
do último corte de mais de R$ 10 bilhões do orçamento do MEC pelo governo
federal.
A
postura conivente e a bajulação bovina de setores midiáticos “progressistas” em
relação aos atos de vandalismo coletivo de marionetes de partidos
políticos em São Paulo originou o mais recente fenômeno de glamourização do
quebra-quebra desde os pandemônios de 2013. Aliado ao prestígio praticamente
incontestável das ideias de Paulo Freire e seus comparsas no establishment “intelectual” brasileiro,
esse incentivo tácito à baderna ideológica como método de reivindicação é mais
do que suficiente para esclarecer as causas das veias abertas da América
Latina. Avaliar o fracasso educacional dessas pobres nações tão longe de Mises e
tão perto de Marx sem levar em conta a influência perniciosa de uma visão de
mundo renitente em enxergar pobres como massa de manobra de revolução em pleno
século XXI, é fechar os olhos para os milagres que a educação livre de
ideologia tem operado mundo afora. Em meio século a Coréia do Sul emergiu das
ruínas de uma guerra fratricida que causou a destruição de 25% de seus recursos naturais e a morte de 5% de sua população civil
para a vanguarda tecnológica mundial. Hoje, enquanto os jovens pobres do Tigre
Asiático estudam para criar aplicativos de celular, os brasileiros aprendem
como parar avenidas e depredar patrimônio público e os mexicanos são instruídos na nobre
arte de tomar ônibus à força e morrer nas mãos de traficantes.
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