Dentre tantos exemplos
cotidianos (como a imagem que abre essa postagem, esse e esse), que de tão corriqueiros chegam a passar despercebidos, a face
mais visível da hegemonia esquerdista no meio pedagógico brasileiro é o fato de
alguém como Paulo Freire ser considerado o patrono nacional da educação. A
maior referência brasileira em ensino menospreza o caráter profissionalizante
da educação convencional, taxando-a de “bancária” por, em seu ponto de vista,
tratar os estudantes como depósitos de informação (como se acúmulo de saber
fosse o último estágio da degradação humana). Em vez dela, propõe uma pedagogia
“crítica”, na qual o aluno “constrói o próprio conhecimento” e se
torna um “agente de transformação social”.
Em seu propósito original de
educar jovens e adultos, o método freireano de “formar cidadãos” termina por
criar massa de manobra de sindicato partidarizado e movimento “social”. Na
educação regular, cria-se a cultura das birras infantis alçadas à categoria de pensamento político e dos agitadores infanto-juvenis que aprendem a “exigir
direitos” (isto é, berrar pelo aumento do tamanho do estado) invadindo escolas e depredando patrimônio público (devidamente
incentivados, diga-se, pela bajulação cínica de artistas e
jornalistas adestrados em faculdades construtivistas de ciências humanas,
especialistas em propagandear promoção de quebra-quebra niilista como
“manifestação por direitos”). Nenhuma surpresa nisso, afinal proliferar
infantaria revolucionária é o objetivo último de todo doutrinador marxista,
desde os mais honestos como Trotsky e Gramsci aos piores vigaristas que se
escondem por trás do rótulo de “educadores”.
Muito da resistência ao
Projeto Escola sem Partido tem origem na concepção absurda de que educar o
indivíduo, no sentido de civilizá-lo, torná-lo apto a viver em sociedade, é
dever do professor. Sustentar isso é rebaixar a unidade familiar à condição de
mero ajuntamento de pessoas vivendo sob um mesmo teto, pois nega a ela a prerrogativa
tradicionalmente sua de transmitir aos próprios filhos os próprios valores e
princípios. Um ato reflexo de uma mentalidade totalitária que tende a enxergar
a formação do ser humano não como uma atribuição parental, mas como um dever do
estado, cujo objetivo frequente é redesenhar a sociedade ao sabor de
preferências ideológicas espúrias que de outra forma não encontrariam lastro
nas tradições de uma comunidade.
É essa a motivação por trás
do trecho do projeto de lei, que veda a aplicação dos postulados da chamada
teoria de gênero nas salas de aula do 1º e 2° graus. Em linhas
gerais, essa corrente de pensamento entende que a identidade e a sexualidade
humanas não são determinadas apenas pela biologia, mas são, acima de tudo,
“construções sociais”. Em outras palavras, as pessoas nascem “neutras”: não é a
genitália que define se alguém “vai se tornar” homem ou mulher, mas sim suas
experiências e contextos de vida.
Há pessoas de todo tipo no
mundo, de modo que é razoável imaginar que exista quem não se identifique com o
próprio sexo biológico. O problema da abordagem desses conceitos em ambientes
onde crianças e adolescentes influenciáveis estão sujeitos à autoridade de
alguém com opiniões formadas (e, não raro, a serviço de interesses escusos), é
a condição que se cria para que a educação estatal sirva como instrumento de
propagação das ideias e de imposição da moral de quem está no controle da sala
de aula. Daí a importância de estimular os pais a redobrarem a atenção ao que
seus filhos são expostos diariamente. Se aproveitando da audiência cativa dos
estudantes, alguém mal intencionado tem totais condições de transmitir a
pessoas em fase de desenvolvimento moral e intelectual valores que podem não
condizer com a formação pretendida por suas famílias. Como qualquer pessoa, o
professor, na condição de cidadão, tem total liberdade de expressão e todo
direito de criar os próprios filhos da maneira que achar melhor (dentro de
determinados limites legais, obviamente). O que ele não pode é educar (isto
é, transmitir seus valores e visões de mundo) os filhos dos outros.
Em relação à teoria de
gênero, isso é ainda mais crítico porque toca em questões delicadas como
sexualidade. Há quem ache conveniente
apresentar esse tipo de conteúdo a crianças na primeira infância. Se entendem
que sexualizar precocemente os próprios filhos pode ser
benéfico para seu desenvolvimento, que assim o façam. Da
mesma forma, há quem ache que esses assuntos, além de serem inadequados a
pessoas que ainda não atingiram a puberdade, são importantes demais para
escapar da alçada da família e ficar a cargo de “educadores” cuja formação
muitas vezes se resume à observância de uma agenda ideológica.
A real intenção por trás do
interesse de alguns grupos (minoritários, diga-se) em ver um assunto tão
especificamente acadêmico como teoria de gênero em salas de aula frequentadas
por crianças e adolescentes, pode ser aferida em um projeto de lei de autoria
dos deputados federais Jean Wyllys e Érica Kokay. Nas palavras de um dos
proponentes, o PL 5002/2013 “tange ao direito à
identidade de gênero de pessoas menores de 18 anos de idade”. Como já é de se
esperar desse tipo de gente, o projeto tem lá seu lado maluco-beleza: o
parágrafo primeiro do artigo 8º rejeita qualquer averiguação de ordem psíquica
como exigência para uma pessoa se submeter a algum tratamento que vise à
mudança de sexo. O parágrafo segundo estende essa “conveniência” a menores
de 18 anos. O artigo imediatamente posterior, num frenesi tipicamente
esquerdista por governo grátis, prevê que todos esses procedimentos sejam
“gratuitos” e, haja vista sua eficiência germânica para tratar da demanda
convencional, obviamente de responsabilidade do SUS.
Isso, no entanto, não é o que
mais chama atenção no projeto de lei do deputado ex-BBB. O artigo 5º determina
que menores de 18 anos que desejem alterar o status de gênero em registros
civis devem fazê-lo por meio de seus responsáveis legais. No caso de não haver
consentimento destes últimos, o parágrafo primeiro deste mesmo artigo traz uma
solução no mínimo controversa para o impasse: “Quando, por qualquer
razão, seja negado (...) obter o
consentimento de algum/a dos/as representante/s do menor, ele
poderá recorrer a (sic) assistência da Defensoria
Pública para autorização judicial(...)”. O artigo 8º, por sua
vez, versa sobre o direito de acesso das pessoas maiores de idade a
intervenções cirúrgicas e tratamentos hormonais visando à mudança da aparência
física. O parágrafo 2° deste mesmo artigo sentencia (novamente ipsis
litteris): “No caso das pessoas menores de dezoito (18) anos de
idade, vigorarão os mesmos requisitos estabelecidos no artigo 5º para a
obtenção do consentimento informado”.
À parte quaisquer
questionamentos de ordem moral ou ética, o que é mais perturbador e revelador
do caráter e das intenções dessas pessoas é a compulsão totalitária para criar
meios de o estado se imiscuir de maneira cada vez mais profunda no seio da
estrutura familiar, com o objetivo claro de anular a autoridade parental sobre
os filhos. Primeiro a Lei da Palmada entra em vigor para
punir pais que lhes apliquem castigos físicos. Agora, se reprovam seu
comportamento, entra em cena a defensoria pública para assegurar que possam
fazer suas “escolhas” livremente. É evidente o esforço contínuo empreendido na
direção de usurpar dos pais em favor do estado o poder sobre os próprios
filhos.
Devidamente “conscientizado”
na escola acerca de suas infinitas potencialidades sexuais, o estudante passa a
prescindir da aprovação da família para tomar uma decisão que pode mudar
radicalmente os rumos de sua vida. Via escola, o estado assume o compromisso
tradicionalmente familiar de formação e orientação do ser humano e, como
consequência, a obediência e lealdade que os filhos outrora destinavam aos
pais, passam agora ao grupo então no poder. Tal cenário é uma combinação
macabra das previsões mais sombrias de George Orwell e Aldous Huxley: se o
primeiro imagina uma realidade onde os pais, permanentemente acuados pela mão
de ferro do governo, estão continuamente sob a vigilância dos filhos, o segundo
pinta um quadro em que a sexualização precoce de crianças é condição sine
qua non para a perpetuação de uma agenda ideológica no poder.
Totalitarismo desabrido sob o disfarce de preocupação com a condição de pessoas
sexualmente ambivalentes.
É evidente, neste caso, a
articulação entre a escola educadora que, exatamente como
Gramsci preconiza, atua como meio de difusão das ideias e da moral de quem tem
o controle do estado (e, em consequência, da sala de aula via órgãos de
regulação da educação) e um projeto de sociedade no qual a atuação do
professor educador é vital. É nesse contexto que se faz
necessária uma iniciativa como o PESP. Mesmo que criar mecanismos legais de
fiscalização e punição do docente mal intencionado possa dar origem a novos problemas, o maior êxito da iniciativa é trazer à luz toda sorte de
abusos que doutrinadores e militantes disfarçados de professores cometem
diariamente na privacidade da sala de aula com os filhos alheios. Daí a
importância de reconhecer na informação e na conscientização os meios mais
eficazes de conter tais desmandos.
Uma nação majoritariamente
conservadora, onde a moral cristã está arraigada no imaginário coletivo, não
pode enxergar com bons olhos a diligência com que uma elite cultural
desconectada da realidade das pessoas comuns procura lhe impor uma agenda que
vai de encontro à maioria de suas tradições e costumes. Por mais
“liberal” que o status quo tenha se tornado, para o brasileiro
médio ainda é intolerável ver um filho servindo de
massa de manobra de agitador profissional ou aceitá-lo como uma mulher no corpo
de um homem, por exemplo. Por isso, toda a habilidade dos engenheiros sociais
em explorar o lado ruim dessa realidade (a perseguição que homossexuais e
pessoas de sexualidade ambivalente ainda sofrem) para promover seus modelos
degenerados de sociedade é inócua, se divorciada da conveniência de utilizar a
escola para instilar seus valores nas novas gerações (contando sempre com a
omissão familiar sobre o tipo de influência a que seus filhos são expostos
diariamente).
Não à toa, a profusão de
famílias sem estrutura, fruto do hedonismo político huxleyano que alça sexo
inconsequente cada vez mais precoce, aborto e drogas à categoria de “direitos
sociais”, conjugada com a onipresença de um estado paternalista que paga
pessoas pobres para terem filhos e confiarem sua “educação” a escolas
públicas cada vez mais aparelhadas, é condição essencial para o triunfo de
qualquer projeto de poder totalitário. Ainda assim, e mesmo no controle
da quase totalidade dos centros difusores de cultura, o conservadorismo
instintivo do brasileiro comum os obriga a agir nas sombras, o que torna sua
exposição a forma mais efetiva de combatê-los. Apesar de suas fragilidades,
essa vitória o Projeto Escola Sem Partido já pode reclamar.
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