Segundo estimativas, a economia chinesa ultrapassará a norte-americana em menos de uma década. No
entanto, mesmo possuindo arsenal nuclear e uma das mais poderosas forças
armadas do planeta, é pouco provável que o gigante asiático possa ser tão bem
sucedido quanto os EUA em impor seus valores ao restante do mundo, por uma razão
muito simples: soft power.
Se uma coisa ficou clara após o fim da guerra fria, foi
que poderio econômico - militar não é suficiente para nações que tenham
pretensões hegemônicas mundiais. Analogamente à britânica e à romana muito
antes, a pax americana se apóia na difusão de um conjunto de idéias e valores
associados aos EUA que são exportados e aceitos mundo a fora. Por exercer
influência mediante a ameaça de uso da força, a capacidade bélica de uma nação,
hard Power, não consegue conquistar
“corações e mentes”. Se Moscou tivesse o mesmo apelo publicitário do Ocidente, Putin não precisaria agir como um assaltante de morro para manter a
Ucrânia na esfera de influência do Kremlin.
Poucos
agentes são tão responsáveis pelo triunfo global da propaganda americana quanto
sua indústria cinematográfica. Por ter abrangência mundial, Hollywood é um
poderoso instrumento de difusão de idéias. Seja na ocasião da defesa de pautas
historicamente conservadoras, como quando lançou produções pró-Vietnã como Braddock e Rambo, seja na adoção de
idéias ditas “progressistas”, como é a tendência atual, o poder de influência
de Hollywood não pode ser subestimado.
Ao receber o Oscar de melhor atriz coadjuvante em
2015, a atriz Patricia Arquette fez um discurso inflamado exigindo igualdade salarial e de direitos para as mulheres nos EUA. Sob
intensos aplausos da platéia presente, a atriz não perdeu a chance de justificar seu prêmio e garantir que continua digna de arrumar trabalho no futuro, ao fazer publicamente sua profissão de fé à seita política da corriola que dá as ordens em Hollywood. Num
país onde a população universitária é majoritariamente feminina,
e cujos principais indicadores sociais estão entre os mais igualitários do mundo...
De acordo com o
IBGE, em 2011 a remuneração média das mulheres no Brasil, ficou em torno de 70% da média masculina. O mesmo estudo aponta que, em
média, mulheres trabalham 4,2 horas semanais a menos que os homens. Quem procura, honestamente, entender como funciona a dinâmica do mercado de trabalho, não pode ignorar que
fatores como maternidade e dedicação à família têm influência direta na redução
da capacidade produtiva de uma mulher não solteira. Por mais que a remuneração fique
a cargo dos órgãos de seguridade social, o tempo que uma mulher passa afastada
do trabalho para se dedicar à maternidade, por exemplo, incorre em custos
adicionais ao empregador, que precisa treinar e ambientar um substituto até que
a funcionária regresse, além de arcar com sua natural redução da produtividade
logo após o retorno.
Discursos como o de
Arquette mais atrapalham que ajudam as mulheres. Ao ignorar a realidade em
favor de um discurso ideológico ela clama por maior
ingerência do estado no setor privado. O principal efeito colateral disso é que
mulheres tão qualificadas quanto e possivelmente até mais talentosas e
competentes que seus concorrentes homens tendem a ser preteridas em seleções de
trabalho devido a seu maior custo de contratação. A ocasião de uma legislação,
que, em reparo a esse problema, obrigasse as empresas a manter igual proporção
de homens e mulheres em seus quadros, implicaria num aumento exponencial da
concorrência entre as mulheres em idade produtiva. Paradoxalmente, a interferência
do governo na política de remuneração do setor privado tende a criar o cenário
que os maiores militantes pela "igualdade de gênero" mais se empenham em
evitar: uma realidade de competição selvagem ilimitada, onde os fracos não têm
vez. Num ambiente adequadamente desregulado, a insistência de eventuais
empregadores em admitir apenas homens seria devidamente punida melo mercado,
pois, sendo as mulheres tão capazes e competentes quanto os homens, seria
criada uma oferta de mão de obra feminina barata e qualificada, que seria
disputada intensamente por atores que buscam exclusivamente o lucro. Obviamente
tão talentosas como os homens e com o diferencial de, a priori, oferecerem a mesma mão de obra com menor preço, as
trabalhadoras seriam gradualmente atraídas para salários cada vez maiores, até
que as desigualdades salariais se extinguissem naturalmente.
No caso de Hollywood, o discurso da vencedora do
Oscar de atriz coadjuvante de 2015 se mostra ainda mais sem sentido. Por ser um
ramo de negócios que lida com entretenimento, o cinema, de modo muito mais nítido
que em outros campos da atividade humana, tende a dar mais valor a quem faz
mais sucesso e tem mais apelo com quem consome o serviço, ou seja, o público. Na
época áurea de Two and a Half Men, Charlie
Sheen, um bêbado e mulherengo inveterado se tornou o ator mais bem pago da TV americana.
Robert Downey Jr., outro ex-drogado que
já teve problemas sérios com a justiça, se
tornou o mais valioso ator de Hollywood após interpretar personagens como o detetive Sherlock Holmes na franquia
homônima e o Iron Man na multi-
milionária franquia The Avengers. Dwayne
Johnson, protagonista de clássicos eternos do cinema muar como
Fast & Furious, é o ator mais bem pago do mundo. O que há em comum entre esses casos é
que, mesmo tendo seus trabalhos praticamente ignorados pela crítica
especializada, todos eles conseguiram fazer de suas imagens alguns dos
produtos de maior valor comercial na indústria de entretenimento dos EUA.
Diferentemente de Patricia Arquette, eles nunca precisaram subir num púlpito
para, da mesma forma que um mendigo exigente, choramingar por mais do que merecem,
por causa de uma realidade simples: eles até podem não ser tão talentosos, mas
são mais carismáticos e mais rentáveis que sua colega estridente. Por isso
ganham mais e são mais famosos.
Durante a segunda temporada de Friends, Jennifer
Aniston e David Schwimmer detinham os maiores salários dentre o elenco principal da sitcom.
Só depois que a série fez sucesso a ponto de os seis protagonistas terem a
mesma importância, de comum acordo,
e sem precisar fazer papel de otário num palanque, eles
decidiram reivindicar salários iguais.
Da mesma forma como já converteu a maioria de suas produções em plataformas de proselitismo esquerdista, Hollywood tem se empenhado ativamente em favorecer
artistas que abraçam sua causa “voluntariamente”. O fato de a academia boicotar acintosamente atores que não fazem eco a seu viés ideológico, só mostra como o
meio artístico dos EUA é intolerante à divergência de opinião e bastante
receptivo a oportunistas que fazem
uso de seu “engajamento político” para ganhar visibilidade.
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