Depois
do instinto de autopreservação, o mais forte impulso que move o macho no reino animalia é o afã de se reproduzir. É a
irresistível obrigação biológica de passar seus genes adiante a origem dos
espetáculos bizarros e curiosos que os machos proporcionam na hora de cortejar
e se oferecer para as fêmeas. Desde macho da foca-de-crista, que infla sua
cavidade nasal até que se pareça com um balão gigante, ao macho da viúva negra,
que corre o risco de ser devorado vivo pela fêmea ao se aproximar dela, é
enlouquecedora a variedade de comportamentos estapafúrdios aos quais os animais
se submetem em nome da perpetuação da espécie.
O
macho humano carrega a particularidade de ser o único representante do reino
que introduz os componentes moral e racional na equação da reprodução. Em tese,
deveria dispor de meios menos animalescos para cortejar a fêmea da espécie. A
observação empírica, no entanto, atesta sua prolífica capacidade de exibir
comportamentos que fariam o ritual de acasalamento do macaco bonobo se
confundir com uma exibição de O
Lago dos Cisnes pela Academia
de Balé Bolshoi.
Mesmo
que naturalmente seja um retardado completo e nutra uma paixão bovina por toda
sorte de imundície que atravesse o vácuo entre seus ouvidos, é quando tenta
chamar a atenção da fêmea que o macho humano comum se supera em sua estupidez.
Ignorando qualquer senso de prudência e ridículo, é bastante frequente que, traído
pela tirania insuperável da testosterona, se veja constantemente agindo como um
macaco de circo, aderindo a comportamentos autodestrutivos ou se fazendo de
palhaço na tentativa de cair nas graças de alguma fêmea (geralmente com QI de
ameba igual ao dele). De tão aterradora realidade, nem Aristóteles escapou.
No
esforço heróico de ser bem sucedido na correria darwinista sócio-sexual, agir
como um idiota parece ser pré-requisito fundamental. Por isso mesmo, é
bastante comum a visão de animais se vestindo e se portando como araras no cio
ou de neandertais gastando o que não têm numa única noite, a movimentar toda uma
indústria que lucra em cima da infinita potencialidade do homem comum de ser
feito de otário.
Mesmo
a tecnologia, que como a filosofia é o que melhor distingue a espécie da
selvageria de todas as outras do reino animal, endossa o panorama de burrice e
mediocridade que reafirma a condição animalesca do homem comum. O que
sempre foi um monumento à capacidade humana de se elevar sobre as outras
espécies se tornou um meio de rebaixá-la à grosseria elementar das mais simples
criaturas, ao ser convertida em mera coadjuvante num grotesco ritual de
acasalamento moderno. Como o coala macho, que rejeita sua habitual natureza
pacata e passa horas seguidas gritando freneticamente, a besta humana média utiliza a
tecnologia para chamar a atenção da fêmea da espécie fazendo o máximo de
barulho possível.
Que
motivação, afinal, levaria um chimpanzé a chegar com um amplificador de som que
vale mais que sua vida miserável e despejar o inferno sobre quem está próximo,
senão a necessidade neolítica de atrair a fêmea da forma mais primitiva? Alguém
(ou algo) que não significa absolutamente nada por si só, tão incompetente em
chamar atenção pelo que é que precisa apelar para a violência elementar. Não à toa Schopenhauer sentenciou que quanto menos ruído alguém suporta sem se incomodar, maior seu grau de civilização. O que
seria isso senão a sublimação de um paradoxo colossal? A técnica, um dos mais
nobres produtos do intelecto humano, que durante a história possibilitou
ao homem controlar seu ambiente e se destacar dentre todas as outras criaturas,
se torna uma ferramenta de involução, um link permanente com o passado troglodita
da humanidade, uma barreira tecnológica erguida entre o homem e a civilização.
Não
que a maioria tenha no passado sido muito melhor do que é hoje. Se não fosse
por uma minoria de bravos que desde sempre carregou a humanidade nas costas,
certamente ainda estaríamos em cavernas comendo insetos. A questão é que, como
dizia Nelson Rodrigues, se desde sempre o silêncio foi dos imbecis, hoje a
tecnologia criou meios de perceberem sua onipotência numérica e de exibir sua
idiotice em voz alta, no volume máximo.
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